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Sabedoria humana / Sabedoria Divina

«Mas não se há-de julgar que ficando a alma neste não saber; perde ali os hábitos adquiridos das ciências que tinha; antes se lhe aperfeiçoam com aquele hábito mais perfeito, que se lhe infundiu, de ciência sobrenatural; e embora já esses hábitos não reinem na alma de maneira que ela tenha necessidade de conhecer por meio deles, todavia isto não impede que assim suceda algumas vezes. Porque nesta união de sabedoria divina estes hábitos juntam-se com a sabedoria superior das outras ciências, ao modo como se junta uma luz pequena com outra grande, que a grande é que prevalece e luz, mas a pequena não se perde, antes se aperfeiçoa, embora não seja ela a principal a luzir. Assim entendo que será no céu: onde não se corromperão os hábitos que os justos levarem de ciência adquirida, ainda que de pouco lhes haverão de aproveitar, sabendo eles mais do que isso na sabedoria divina.»
(S. João da Cruz, Cântico Espiritual XXVI, 16)

«A inteligência unida a Deus reflecte a sabedoria tal qual a recebe.»
(Edith Stein, Ciência da Cruz)

«A sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura, depois pacífica, indulgente, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, isenta de parcialidade e de hipocrisia.» (Tiago 3,17)

Este é num tema que aborda algumas questões relativas à atitude que cada ser humano toma, nos contextos da acção que tem, como objectivo específico, outros seres humanos. Sabemos que essa atitude é condicionada, em larga medida, pela perspetiva com que vê o outro, baseada nas crenças e valores fundamentais que acolhe e partilha.

Esses valores e crenças, que cada ser humano vai adquirindo ao longo da sua aprendizagem, têm como principal origem dois tipos de fontes: a revelação divina e a especulação humana.

A primeira está principalmente contida nas Sagradas Escrituras, também chamada revelação pública, que terminou com a morte do último Apóstolo. No entanto, ao longo dos últimos dois milénios, Jesus, Maria, os Santos e os anjos, têm comunicado a algumas pessoas mais próximas de Deus, um conjunto de inspirações e ensinamentos que constituem o que habitualmente se chama "revelação privada". É evidente que neste campo o inimigo semeou o seu joio, provocando muita confusão, que tem dado origem aos mais variados e nefastos erros. Mas, como nos aconselha São Paulo, convém, na medida do possível, "analisar tudo e reter o que é bom". Assim o Espírito Santo nos ilumine.

A segunda fonte tem como origem a especulação gerada na mente humana. No entanto, essa especulação não pode ser toda "metida no mesmo saco", dado que ela pode ter sido produzida sob as mais diversas condições internas e externas. Assim sendo penso que é justo distinguir e avaliar todo um continuum qualitativo que vai desde o maléfico ao aceitável, na medida em que a dita especulação se aproximar do divinamente revelado. Em todo caso é aconselhável recorrer ao Magistério da Santa Igreja, para um correcto discernimento. Desta forma podemos verificar que há ensinamentos que se aproximam da verdade, embora estejam, mais ou menos longe dela. Em qualquer caso, cairemos num grave erro se abandonarmos o "Esplendor da Verdade" revelada e, como diz são Paulo nos voltarmos para "as fábulas" [1] só porque estamos desejosos de novidades. Enfim, é bom não esquecermos que há um tipo de conhecimento que é produzido de costas para a Luz.

Posto isto, o problema coloca-se então na forma como se perspetiva, como se dirige, o percurso do conhecimento.

Pelo nosso lado, temos a intenção de contribuir para que alguma reflexão façam aqueles que de alguma forma se foram deixando enredar nas malhas de um conhecimento naturalista, que ignora que a própria natureza aspira pela manifestação que vem do Alto. E assim nos propomos seguir o conselho que nos é dado:

«Não retenhas a palavra quando ela pode salvar, não ocultes a tua sabedoria.» (Eclesiástico 4,23)


[1Idem.